Santarém: Para quando o Museu da Cidade?

 

Umas semanas atrás assisti a dois eventos onde foram abordados temas que, de um modo geral, têm feito parte de muitas conversas e preocupações, por parte dos poucos que se preocupam com o rumo, ou a falta dele, no que concerne à cultura e à transmissão do conhecimento de Santarém, como cidade historicamente impar no panorama nacional.

Foi nesses eventos, um na Sociedade Recreativa Operária, organizado pelo FITIJ e outro na sede da associação de defesa do património (AEDPHCS), que se falou da Cultura, da História de Santarém e da sua preservação e conhecimento e onde foi chamada a atenção para a falta de um museu municipal ou da cidade.

Santarém possui um enorme acervo histórico, resultado de inúmeras pesquisas, recolhas e intervenções arqueológicas ao longo das últimas décadas. Esse vasto espólio está reunido e catalogado numa Reserva Museológica que, por não ser de acesso público, apenas serve de armazém e conservação do que representa mais de três milénios de existência, em campos tão diversos como a arqueologia, a arte, a história e outros campos igualmente relevantes para o seu conhecimento.

Em Santarém nada é feito, nem está previsto fazer-se, para dar a conhecer a visitantes e munícipes a história e a cultura de uma das mais antigas urbes da Península Ibérica, através da exposição pública de todo esse material. E não venha agora alguém dizer que a conclusão das obras na igreja de S. João de Alporão, irá permitir o seu retorno como museu, porque isso é, segundo quem sabe, um disparate e uma tentativa de mascarar uma situação de vergonha para uma capital de distrito com as potencialidades museológicas de Santarém. S. João do Alporão é talvez, o mais antigo e importante monumento da cidade, o que já não é pouco, mas não tem condições nem espaço para ser um museu. Há que fazer as obras necessárias para que reabra brevemente, mas para ser visitada e admirada por aquilo que é e que representa.

Conhecer bem a história da sua terra e dos seus antepassados é meio caminho para a amar e viver interessadamente e com espírito crítico e construtivo, os seus problemas. Os alunos das nossas escolas têm de poder visitar um museu da sua cidade, para a conhecerem, para a estudarem e para com ela criarem laços fortes. A falta desse conhecimento e de uma forte ligação à sua terra, talvez seja uma das causas do atual conformismo e da pouca participação numa cidadania ativa por parte dos munícipes.

Nem é preciso comparar Santarém às restantes capitais de distrito, basta conhecer o que se passa nos concelhos limítrofes e ver que todos eles cultivam a sua identidade cultural e preservam a sua memória histórica com o seu próprio museu.

 

É urgente libertar todo o espólio existente e dá-lo a conhecer ao Mundo. E que não venham com desculpas de falta de dinheiro. O que não faltam é apoios comunitários para esses fins e dinheiros mal gastos em festanças e cultura a metro. É preciso é trabalho e foco. Certamente que as forças vivas da cidade e os próprios munícipes ajudariam nessa empreitada.

 

Armado Leal Rosa