Câmara censura obra alusiva a Bernardo Santareno
A Associação Mais Santarém-Intervenção Cívica, não pode deixar de levantar a sua voz perante atitudes atentatórias da liberdade de expressão, neste caso artística, que vêm sendo tomadas pelo governo desta Câmara Municipal.
Santarém assistiu, na passada semana, a um lamentável ato censório do Executivo camarário que, à última hora, não autorizou a pintura de um mural alusivo a Bernardo Santareno na parede junto à rotunda do Instituto Politécnico. Uma ação integrada no festival internacional de artes plásticas Pictorin 2020, que acabou por ser deslocada para dentro do complexo Andaluz.
Pictorin é um encontro internacional de artistas plásticos que, desde 2018 se vem realizando em Santarém, por iniciativa de algumas pessoas ligadas às artes plásticas e apoiado por algumas associações de âmbito cultural que ainda vão existindo em Santarém. Este ano teve como tema único, as comemorações do centenário do nascimento de Bernardo Santareno e, devido às condicionantes sanitárias, parte do evento foi produzido à distância, tendo participado vinte e cinco artistas plásticos: seis estrangeiros e dezanove nacionais.
O mural agora censurado, para além de uma imagem de Bernardo Santareno na roda do leme de uma embarcação, continha a sua frase, que poderá ter sido o motivo da rejeição da Câmara: “Lutem para que o fascismo não torne a acontecer neste país”. Ele que sentiu na pele e na sua obra literária a perseguição implacável da Pide e o peso da ditadura.
É muito desprestigiante para uma cidade que tem o seu nome ligado à Liberdade e ao 25 de Abril, e onde se realiza um evento da importância do Pictorin 2020, que seja transmitida para o exterior a ideia de que nela ainda perduram certos tiques dos regimes autoritários, onde as artes eram apenas toleradas ao gosto dos governantes.
A tacanhez sobrepôs-se à memória de Bernardo Santareno, o dramaturgo português mais importante do século XX, natural de Santarém, cujo centenário do nascimento se comemora este ano a nível nacional.
Santarém, 8 de Setembro de 2020