Newsletter Nº7

 

Após a notícia vinda a público da venda pela CMS, do edifício com os nºs 3 e 5 da Rua de S. Martinho, confirmámos que o edifício em causa é o que está encostado à Torre das Cabaças, em tempos adquirido pela CMS para lá ser instalada a 2ª fase do Museu do Tempo. Como também é dever cívico denunciar atos que delapidam culturalmente a cidade e as suas memórias, foi emitido um comunicado cuja intenção não é apenas de indignação, mas também se destina a informar quem não sabe, do que se passou, tendo como centro este edifício e o Núcleo Museológico do Tempo.

Um vídeo com a representação em 3D do projeto então elaborado pode ser visto aqui:

 

           Comunicado

Triste Futuro para o Museu do Tempo

A Câmara Municipal de Santarém hipotecou, em definitivo e a troco de uns parcos 52 mil euros – que recebeu da venda de um pequeno edifício em ruínas – a hipótese de construção da 2ª fase do Museu do Tempo. Desígnio que ficou suspenso, após a 1ª fase da intervenção na Torre das Cabaças do Projeto Internacional designado por SANVERAL, iniciativa conjunta com as cidades grega de Véria e italiana de Alberobello, e que foi considerado um dos melhores projetos europeus de reabilitação do ano 1999/2000.

A Câmara alienou agora, provavelmente sem refletir na decisão, o mesmo edifício que comprou há vinte anos, com a finalidade de dar continuidade ao Núcleo Museológico do Tempo – 2ª Fase, cujo projeto de arquitetura foi elaborado pela Divisão dos Núcleos Históricos da própria C. M. Santarém, sob a coordenação do arquiteto José-Augusto Rodrigues e participação do arquiteto Sotero Ferreira; tendo o programa museológico sido desenvolvido pelo historiador Jorge Custódio e sido apresentado em Ouro Preto, no Brasil, durante o VI Encontro de Municípios com Centro Histórico .

Já lá vai o tempo em que o Executivo Municipal se pretendia modelo de recuperação e reabilitação de património, cumprindo o bom princípio de consultar previamente quem sabia, designadamente a Associação de Defesa do Património. Agora, tem historiadores no quadro de pessoal da Autarquia e, aparentemente, não se dá à massada de os consultar. Só assim se explica o dano cultural irreparável que, com alguma informação prévia e bom senso, poderia ter evitado.

Mas a ignorância de quem decide, sem que se informe previamente ou consulte mais amiúde, como seria seu dever, os projetos que tem em arquivo na Câmara, em particular os respeitantes ao Centro Histórico e aos maltratados espaços museológicos, só poderia conduzir a desastres como este – a venda em hasta pública do edifício situado nos números 3 e 5 da Rua de São Martinho, justamente encostado à Torre das Cabaças e ao sistema muralhado do Alporão, que como outros troços da Muralha de Santarém se encontra classificado.

Ao decidir vender o edifício a particulares, a Câmara revelou grande insensibilidade cultural – e, já agora, turística também – ignorando, talvez, que estava a abandonar um dos projetos de maior significado para o desenvolvimento de Santarém, uma vez que em Portugal só existe um pequeno Museu da relojoaria em Serpa.

É de recordar que o Município possui um vastíssimo património de relógios – peças únicas, algumas sem igual no mundo – que as adquiriu com o propósito de os expor nesta 2º Fase do Museu do Tempo, a implementar através da extensão para este edifício adjacente (até agora propriedade da Câmara), e que seria um valioso contributo para a promoção da cidade e do Concelho.

Note-se que o Museu do Tempo tinha também como objetivo a apresentação pública da coleção de pesos e medidas do município de Santarém existente na Reserva Municipal. A metrologia era uma das prerrogativas municipais, assente na aferição dos padrões de medida e peso, assim como medir o tempo, implicando por isso – outrora – a existência de um relojoeiro pago pelo Município. A exposição permanente da 2.ª fase implicava oito núcleos, a saber: Natureza e Medida; Invenção da Máquina do Tempo; Relógios de Sociedade; Tempo e Mentalidade; A Hora do Amor; O Tempo do Trabalho; O Tempo na Sociedade de Consumo; Provir.

Poder-se-á ter, assim, uma noção do erro cometido pela autarquia com esta venda insensata. Embora a Torre das Cabaças se encontre entregue à incúria, sendo mesmo muito difícil visitá-la atualmente, é com grande mágoa que vemos este projeto da expansão do Museu do Tempo cair irremediavelmente.

 

Santarém, 20 de Janeiro de 2020

 

A Direção da AMSIC